segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

METADE - Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo o que acredito não me tape os ouvidos e a boca

Por que metade de mim é o que eu grito mas a outra metade é silêncio
Que a música que eu ouço ao longe seja linda ainda que triste

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada mesmo que distante

Porque metade de mim é partida e a outra metade é saudade
Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como precenem repetidas com fervor, apenas respeitadas,como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento

Porque metade de mim é o que ouço mas a outra metade é o que calo
Que essa minha vontade de ir embora, se transforme na calma e na paz que eu mereço

Que essa tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada

Porque metade de mim é o que penso e a outra metade é um vulcão
Que o medo da solidão se afaste

Que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorrisoque eu me lembro ter dado na infância

Porque metade de mim é a lembrança do que fui, a outra metade eu não sei
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria pra me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio me fale cada vez mais

Porque metade de mim é abrigo mas a outra metade é cansaço
Que a arte nos aponte uma resposta mesmo que ela não saiba

E que ninguém a tente complicar porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer

Porque metade de mim é a platéia e a outra metade é canção

E que a minha loucura seja perdoada

Porque metade de mim é amor e a outra metade também

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